quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Lula, o filho do Brasil


Não é difícil prever que Lula, o filho do Brasil (título um tanto cafona, há que se notar), novo filme de Fábio Barreto, vai ser um sucesso estrondoso de público. Aliás, digo logo antes da estreia: é bem provável que esse se torne o filme brasileiro mais visto da história do país. Isso porque a obra é de uma eficiência mais que clara: conta uma saga impressionante, cujo desfecho apoteótico é conhecido universalmente pela imensa maioria dos espectadores que se dirigirão às salas de cinema a partir do dia primeiro de janeiro. E isso com uma estrutura clássica, que acompanhada o protagonista da infância até seu apogeu como líder sindical, e um nome de peso no elenco: Glória Pires, que interpreta a mãe de Lula. Além disso, o estreante Rui Ricardo Diaz, que encarna Lula dos 18 aos 35 anos, apresenta certamente uma atuação de excelência, se adequando muito bem às transformações físicas do personagem e compondo um retrato que é, ao mesmo tempo, familiar e não caricato.

Com essas cartas em mãos, aliadas às polêmicas levantadas pelo filme – o fato de sua estreia ocorrer em um ano de eleição, por exemplo – cria-se um sucesso. Esse fato não quer dizer, no entanto, que não se trata de uma obra com diversos problemas. O mais gritante é o fato de o filme ser inteiramente preto no branco (apesar de em cores), sem nuances. Lula é um herói absoluto e inquestionável do início ao fim, que não faz nada que não seja nobre ou inspirador e, assim como ele, todos os personagens são construídos de forma maniqueísta: a mãe forte e batalhadora, o pai alcoólatra e mau-toda-vida, a mulher frágil e companheira etc. Essa falta de cinza em uma estória que se vale de personagens reais os torna um tanto menos reais e coloca em xeque a proposta primordial da biografia cinematográfica.


De qualquer forma, o filme emociona em alguns momentos e certamente vai cativar o público. É uma pena que o diretor Fábio Barreto, muito animado na sessão de imprensa em que assisti ao filme, tenha sofrido um trágico acidente que talvez o impossibilite de ser testemunha do êxito de sua obra. Êxito mais que provável, dadas as condições.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Porque às vezes a vida é surpreendemente boa (que medo)


Pessoas, esqueci de contar: aquela parada de que mentalizar que uma coisa vai acontecer faz ela acontecer mesmo, tipo livro sem noção de autoajuda, dá certo mesmo!!!

Por que eu tô dizendo isso, vocês podem me perguntar... Porque tem umas duas semanas que eu assisti a Whatever works, em película, no cinema e de graça!!! Ficou curioso, pergunte-me como!

Foi uma grata surpresa, que fez o meu fim de ano muito mais feliz, mesmo sem dinheiro, mesmo sem a viagem que eu planejara e que não vai ocorrer – viram como eu sou humilde e peço pouco da vida?

O filme é interessante, com o Larry David fazendo um tipo irritadiço, suicida e misantropo que conquista a plateia completamente, talvez porque nesse último longa, Allen radicaliza uma forma de narração já presente em Annie Hall e razoavelmente comum no cinema contemporâneo, na qual o personagem simplesmente dirige-se para o público, no meio de uma cena qualquer, para fazer confissões e explicar seus pontos de vista.

A obra marca a volta do diretor a seu cenário favorito, New York. Vale a pena conferir o filme nos cinemas, aguardem vocês, pobres mortais sem sorte na vida (hahaha).

A tese do filme é aquela velha máxima alleniana, do tipo: a vida é uma merda, mas o sorvete de chocolate se salva! Ou, através da minha perspectiva: a vida é uma merda, mas como é o único lugar em que Woody Allen faz filmes, ela ainda vale a pena.