O peso de saber que se trata da transposição de uma estória real para as telas é acentuado por uma fotografia esplendorosa, especialmente magnífica quando a câmera assume o ponto de vista do protagonista, revelando cruamente a agonia da submersão em si. Na pele de Jean-Dominique, Mathieu Amalric atua com uma força cortante; justo seria dizer que a sua voz em off age em perfeita consonância com a fotografia, constituindo claramente os dois um único personagem, como é raro de se ver no cinema, a não ser em segmentos realmente breves. A vida interior do protagonista ressurge também em uma série fluida de pequenos flash backs e imagens que remetem à imaginação de Jean-Dominique, abraçando o lírico sem apelar para a indução ao choro fácil típica das obras da linha estória-real-triste-de-dar-dó.
E ao mostrar um personagem que não se entrega à passividade inerente a sua condição, o filme ganha uma pitada de leveza, a fim de se estabelecer o equilíbrio exato dessa que é sem dúvida uma das melhores construções cinematográficas dos últimos tempos, firmemente ancorada em atores fenomenais – muitas vezes obrigados à desconfortável posição de interagir com a própria câmera. Transparece nitidamente, assim sendo, a excelente direção de Julian Schnabel, unindo fotografia e atores de forma tanto orgânica quando surpreendente. E belíssima.