quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Submerso


Não sei bem como O escanfandro e a borboleta chegou até mim, visto que pouco ouvi falar sobre esse filme francês, que conseguiu quatro indicações ao Oscar 2008. Sei apenas que, uma vez que o primeiro fotograma atingiu as minhas retinas, foi impossível não me apaixonar pela estória de Jean-Dominique Bauby, editor da revista Elle francesa, que aos quarenta e poucos anos, sofre um derrame que o deixa num raro estado conhecido como “síndrome do encarceramento” – em que o sujeito não consegue se mover ou falar, apesar de permanecer consciente e inteiramente lúcido.

O peso de saber que se trata da transposição de uma estória real para as telas é acentuado por uma fotografia esplendorosa, especialmente magnífica quando a câmera assume o ponto de vista do protagonista, revelando cruamente a agonia da submersão em si. Na pele de Jean-Dominique, Mathieu Amalric atua com uma força cortante; justo seria dizer que a sua voz em off age em perfeita consonância com a fotografia, constituindo claramente os dois um único personagem, como é raro de se ver no cinema, a não ser em segmentos realmente breves. A vida interior do protagonista ressurge também em uma série fluida de pequenos flash backs e imagens que remetem à imaginação de Jean-Dominique, abraçando o lírico sem apelar para a indução ao choro fácil típica das obras da linha estória-real-triste-de-dar-dó.

E ao mostrar um personagem que não se entrega à passividade inerente a sua condição, o filme ganha uma pitada de leveza, a fim de se estabelecer o equilíbrio exato dessa que é sem dúvida uma das melhores construções cinematográficas dos últimos tempos, firmemente ancorada em atores fenomenais – muitas vezes obrigados à desconfortável posição de interagir com a própria câmera. Transparece nitidamente, assim sendo, a excelente direção de Julian Schnabel, unindo fotografia e atores de forma tanto orgânica quando surpreendente. E belíssima.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Fazer listas sem parar é sinal de TOC?


Na cola do mais novo sucesso de bilheteria do cinema nacional, Se eu fosse você 2 (a que ainda não assisti), aqui vai uma listinha de filmes – a maioria no estilo Sessão da tarde – que têm como premissa a troca de corpos entre indivíduos. Por lidarem com uma das maiores impossibilidades da existência – ver o mundo através de olhos alheios – esses filmes quase sempre despertam o interesse, nem que seja por força de uma única cena:

1) Sexta-feira muito louca: nesta obra, mãe conservadora e filha um tanto rebelde se veem uma no corpo da outra. A primeira versão, de 1976, conta com Jodie Foster novinha; na segunda, de 2003, um biscoitinho da sorte é o catalisador da transformação.

2) Vice-versa: espécie de versão masculina do filme citado acima, mostra pai e filho trocando de corpos, sob o efeito de um misterioso artefato oriental. Figurinha fácil das tardes da Globo.

3) Por trás daquele beijo: no dia do seu casamento, uma noiva ganha um beijo de um velhinho desconhecido e é essa ação que produz a troca de consciências entre eles. Conta com a chatinha da Meg Ryan no elenco.

4) Estrela cadente: nesse típico filme de colégio norte-americano, duas irmãs (uma popular e outra nerd) fazem um desejo para uma estrela cadente e, como resultado, adivinhem...

5) A chave mestra: bom, para não entregar demais, melhor dizer apenas que essa obra bacaninha de terror apela para a magia negra africana para explicar a ocorrência de eventos em que uma alma é capaz de trocar de corpo.