sexta-feira, 28 de novembro de 2008

À espanhola



Vicky Cristina Barcelona, o novo Woody Allen, a que finalmente consegui assistir, é um daqueles maravilhosos filmes que se revelam aos poucos. Você sai do cinema com aquela sensação de que poderia ver o filme novamente e descobrir muitas nuances novas. Você simplesmente não consegue deixar de pensar sobre o que viu e o filme se transforma na sua cabeça um sem-número de vezes, emergindo sempre com novas cores.

A obra conta a estória de duas amigas de personalidades bastante diversas que decidem passar um verão em Barcelona. A principal diferença entre elas, estabelecida desde o princípio pela narração, é a forma como elas encaram as experiências amorosas e é essa divergência de atitude com relação ao amor que as levará a traçar caminhos diferentes quando ambas se envolvem com um atraente pintor espanhol, interpretado por Javier Bardem. Como se não bastasse, há ainda a ex-mulher problemática do pintor, que mantém com este uma relação obsessiva e dá a Penélope Cruz alguns dos melhores e mais engraçados momentos do filme.

Sem favoritismos, a narrativa desvela Vicky e Cristina em suas jornadas particulares, fazendo com que o espectador se identifique ora com uma, ora com outra, num interessante jogo. A estória se desenvolve de maneira um tanto episódica e, ao mostrar as vitórias e derrotas das duas amigas, Allen parece dizer que não há uma forma correta de se encarar o amor e que qualquer postura traz seus inevitáveis riscos.

Ao fim, somos surpreendidos por uma viagem que retorna ao começo e, se produz mudanças nas personagens centrais, não as afasta muito do ponto em que se encontravam quando somos a elas apresentados. Em Vicky Cristina Barcelona, como na vida, as pessoas e as suas crenças não se transformam tão rapidamente como é comum que ocorra no cinema. Mais uma vez, Allen trabalha com um roteiro primoroso, em que busca novos caminhos, entre um realismo doloroso e a alegoria ultra-romântica, representada pela personagem de Penélope Cruz, a artista suicida, genial, belíssima, louca. Allen faz também seu filme mais sensual, em que o sexo é explorado com um olhar que se distancia da frieza cerebral com que o tema é geralmente tratado em sua obra, ainda assim sem nudez ou rompantes exagerados. Allen faz, mais uma vez, mais uma, um filme marcante.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Listas 2, o retorno

Mais uma reedição:


Top 5 filmes do tipo “até parece” (porque eu faço lista para tudo e qualquer coisa):

1) Independence day: o mundo está sendo invadido por alienígenas e em vez de fugir para um local protegido e ignoto, o presidente dos Estados Unidos entra num caça para combater pessoalmente os invasores. Até parece...

2) Proposta indecente: um homem rico, bonito e poderoso oferece um milhão de dólares para dormir com uma mulher que ele mal conhece. Até parece! A mulher reflete, aceita, fica rica – mas o marido, abalado, acaba por abandoná-la. Até parece! No fim, o marido doa todo o dinheiro para exorcizar o passado. Duplo até parece!

3) A vida é bela: um judeu consegue convencer seu filho de que o campo de concentração é na verdade um grande parque de diversões. Até parece!

4) Gladiador: Russel Crowe, sozinho, mas movido por vingança, consegue derrotar basicamente todo o exército romano. Tudo bem, ele morre no final, mas ainda assim, até parece!

5) Um sonho de liberdade: o filme é bonito, emocionante e tal. Mas é sobre um homem que consegue escapar de uma penitenciária de segurança máxima escavando um túnel. Ele passa mais de uma década abrindo o tal túnel e ninguém percebe, ninguém ouve nada estranho, ninguém levanta a menor suspeita. E o instrumento que ele usa para escavar é uma espécie de martelinho, machadinha, enfim, um trocinho tão pequeno que ele escondia numa Bíblia. Gente, o filme até é bom, mas, com todo o respeito: até parece!

Essa lista poderia ter sido elaborada apenas escolhendo-se, ao acaso, cinco filmes do nosso conhecido agente 007. Mas evitemos o excesso de clichês...