terça-feira, 28 de outubro de 2008

Desafinado e fora do tom


Sabe aqueles chicletes que têm uma cor vibrante e peculiar e só de olhar você já sabe que o gosto vai ser o mais artificial possível? É mais ou menos isso o que acontece com Os desafinados, novo filme de Walter Lima Jr. que, surpreendentemente, esteve em exibição no Cinemaxx Araruama. Só de olhar o cartaz do filme você já fica meio desconfiado (comprove observando a imagem acima) e quando, ainda assim, decide assistir, o gosto é o mesmo daquele chiclete rosa fluorescente. O filme conta a estória de um grupo de bossa nova e é inteiro pautado em artificialismos tolos. Não dá para acreditar em nada: nem que a Claúdia Abreu, tão simpática, é uma cantora fenomenal, nem que os cinco amigos do grupo são assim tão íntimos (não há a menor química entre eles), nem no Selton Melo como um cineasta proeminente, nada. O roteiro é um desastre completo, sinceramente. A estória gira em torno do personagem de Rodrigo Santoro e de suas relação amorosas, deixando o resto dos amigos num desconfortável segundo plano muitíssimo raso e os espectadores extremamente confusos, sem conseguir entender as intenções dos outros personagens e seus dilemas. Alguém me explica, por exemplo: o personagem de Selton Mello é gay e apaixonado pelo de Rodrigo Santoro, ou estou superinterpretando o filme? Gente, e por que um filho de mãe brasileira e que viveu com esta por mais de vinte anos não fala português? E por que tudo parece ser motivo para se iniciar uma canção bobinha? Não era mais honesto fazer logo um musical declarado? Outra: alguém entendeu o eixo temporal do filme? E mais uma: que coisa mais esquisita era a relação do personagem de Selton Mello com a câmera que ele carregava para todos os lados, não é não?


À exceção de uma cena curiosa protagonizada por Cláudia Abreu e do meu respeito por Walter Lima, que também dirigiu o lindo A ostra e o vento, nada se salva. Mas, no fundo, já dava para perceber que seria assim, não era preciso nem ter experimentado.


quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Listas, parte 1


Quando eu era criança, meu pai comprava aqueles almanaques da Mônica e eu sempre me intrigava com o subtítulo: a reedição das melhores historinhas. O almanaque era bem mais grosso que a revistinha e parecia ser publicado quase tão freqüentemente quando esta. Pelo volume de colunas que se amontoou nos últimos quatro anos, o efeito aqui poderia ser o mesmo. Por isso, usando de parcimônia, reeditarei aqui algumas coluninhas que permanecem relevantes, a começar pela minha pequena obsessão por listas:

TOP 5 filmes para quem ainda quer acreditar no amor (uma alternativa saudável às comédias românticas chatinhas que se vê por aí):

1) Annie Hall (que tem em português o título absurdo de Noivo neurótico, noiva nervosa): do meu diretor favorito, esse é o filme mais inteligente que eu já vi sobre relacionamentos amorosos, suas complicações e a impossibilidade de sermos completamente felizes sem eles. Lindo, engraçado e extremamente lúcido.

2) Antes do amanhecer: romântico sem ser frívolo, essa obra conta a estória de dois jovens que, impulsivamente, decidem deixar o mundo de lado por única noite para desvendarem um ao outro. A continuação, Antes do pôr-do-sol, é bem bonita também, mas estraga o lindo final aberto do original.

3) Brilho eterno de uma mente sem lembranças: vamos viver o que temos que viver e tudo bem se não der certo. Essa é a mensagem simples e otimista desse filme arrebatador.

4) Ensina-me a viver: um jovem suicida e depressivo de 17 anos e uma senhora beirando os oitenta, mas que vive a vida intensamente, se apaixonam. De verdade mesmo! Agradeço ao meu pai por ter me feito ver esse filme lindíssimo, que tem músicas maravilhosas, grandes diálogos e uma boa dose de humor negro. Típico filme impossível-não-amar.

5) Matrimônio à italiana: Marcello Mastroianni (sempre maravilhoso) é um homem de alta classe que se apaixona por uma prostituta iletrada (Sophia Loren) e passa anos e anos escondendo da sociedade seu amor. Os dois tentam se livrar um do outro constantemente, mas não conseguem. Mais romântico, impossível.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

The Savages



Anteriormente, nesta mesma coluna, eu falava sobre as minhas impressões com relação aos filmes indicados ao Oscar em 2008, à medida que consegui assisti-los aqui nas longínquas paragens de Araruama – e sem o auxílio da internet. Nesse processo de constante decepção (bom, eu até que achei Sangue negro interessante), me deparei com um filme que figurava lá no finzinho da minha lista, mas que foi uma grata surpresa: A família Savage, que foi indicado apenas aos prêmios de melhor roteiro original e atriz.

A obra conta com muita delicadeza a estória de dois irmãos que precisam rever o seu relacionamento ao se unirem para cuidar do pai idoso. Essa descrição soa um tanto clichê, eu sei, mas o filme explora muito bem o tema da estranheza de se dar conta de que os membros de sua própria família podem ser de fato completos estranhos. A inteligente direção trabalha com um jogo de olhares que evidencia a solidão dentro do grupo familiar e um fino humor, que não permitem que o filme escorregue em um sentimentalismo bobo. Além disso, os diálogos são bem escritos e o silêncio é utilizado como um elemento precioso de construção cênica. As excelentes atuações de Philip Seymor Hoffman e Laura Linney conseguem dar corpo a um elo fraternal visível, mas instável.

Só não consegui entender por que razão esse filme foi tão pouco comentado. Talvez por não ter um final tão redentor e lacrimoso como é tradicional nos filmes do gênero. Mas, ironicamente, esta é, talvez, a grande qualidade deste filme tão simpático.

Primeira quinzena de outubro, jornal Principal.

Ó, Paul!



TOP 5 MOTIVOS PELOS QUAIS PAUL NEWMAN SEMPRE SERÁ O MOCINHO DOS MOCINHOS DO CINEMA:

1)Dono de uma beleza estonteante, que já alegrou a área de trabalho do meu computador;

2)Ótimo ator;

3)Recentemente, comemorou bodas de ouro(!!!);

4)Fundou uma empresa do ramo alimentício cujos lucros são inteiramente revertidos para caridade (e quem ganha crédito é essa galera de vai abraçar criancinhas na África para tirar foto);

5)Em certa ocasião, publicou um anúncio enorme num jornal de grande circulação, pedindo desculpas por sua atuação em The silver chalice, que seria reprisado na tevê naquela semana. Quantos astros de cinema você conhece com essa necessária dose de auto-humor?